As vítimas já não são apenas os "mortos de toda a nação": eles são, pura e simplesmente, "os mortos" que entraram nas nossas vidas. A Igreja Católica teve um gesto fantástico ao transformar, em Áquila, as cerimónias fúnebres de todos cujas famílias o desejaram, numa especialíssima Liturgia de Sexta Feira Santa. Em muitas das famílias afectadas, a Cruz de Cristo está agora implantada com uma força que talvez nunca, para eles, tenha tido. O programa "Porta a Porta", de Bruno Vespa, uma grande figura do jornalismo italiano, fez uma extraordinária homenagem televisiva às vítimas e suas famílias, com o seu “O Calvário em Áquila”. Na verdade, é preciso ser gente de algo para, em momentos como este, dar o melhor de si e, com isso, deixar as pessoas mais tranquilas, mais seguras, mais humanas. O Papa Bento XVI também acaba de associar expressamente o drama de Sexta Feira Santa com o drama das gentes dos Abruzzo. Um pai e uma mãe que choram os filhos perdidos, e o fazem com uma serenidade de voz tal que rasga o coração de quem ouve, é um monumento de humanidade, que não se pode esquecer. Assim também a daquele médico, que perdeu a mulher e os dois filhos, e apenas se salvou por estar a trabalhar naquela noite em Roma, e proclama com a força telúrica de uma rocha de alta montanha acreditar que nada acontece por acaso na vida da gente, faz-me pensar: as vítimas continuam a ser porta-vozes de uma Mensagem que, enquanto os homens não se esquecerem de quem são, sempre ressoará na terra.
.
.
0 comentários:
Enviar um comentário