Já há razões para manifestação

Um destes dias, Isabel Alçada foi convidada para ser ministra da Educação. Ontem, o primeiro-ministro anunciou que propôs Isabel Alçada para ministra da Educação. Entre o convite e o anúncio, Isabel Alçada desmentiu que tivesse sido convidada. Desmentiu porque jornalistas lhe puseram o microfone à frente: "Foi convidada para ministra da Educação?" E ela a isso disse: "Não." Ou chutou para canto: "Sabe, eu estou no Plano Nacional de Leitura e esse trabalho é que me interessa..." Os jornalistas estavam a fazer o seu trabalho e fizeram muito bem em tentar saber toda a verdade sobre o assunto. E, perante essa pergunta legítima, Isabel Alçada mentiu. Porque responder que não a uma coisa que ela sabia que a resposta verdadeira era sim é mentir. Mentiu, não há volta a dar. Mas mentiu, fez ela muito bem. Porque, tendo ela sido convidada para ministra da Educação (cargo de que não preciso sublinhar a importância) e esse convite obrigar a sigilo porque envolve regras que lhe escapam, a resposta que ela tinha de dar é a que deu: "Não." Podia ter dado outra, é certo. Mas seria parva. Esta minha crónica é dedicada às almas inocentes que já estão indignadas com "a ministra que antes de começar já mentiu." E, claro, é dedicada também à verdade (verdade verdadinha, até) dessa inocência.

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in DN - Ferreira Fernandes