É um percurso inverso ao de Barata-Moura mas também interessante, o que José Mourinho está a fazer. Jovem e de viola, o cantor infantil José Barata-Moura ficou-nos na memória no que esta tem de mais fácil, o trauteio: "Come a papa/ Joana come a papa..." Depois, fez uma carreira mais agreste, talvez. Filósofo, reitor da Universidade de Lisboa, autor de títulos sem rima (Ontologias da Práxis e Idealismos, por exemplo). Já José Mourinho começou pelo caminho rude da liderança de homens, a que juntou a secura da ciência aplicada (táctica do losango e coisas assim), para vir agora a desaguar na banda desenhada. Já não José Mourinho mas Grande Mou - que aquilo de falar em balões exige nomes sonantes (Tintim, Rantanplan...) -, o treinador de futebol atinge comprovadamente a glória ao emparceirar com o Pato Donald numa colecção da Disney, em Itália. É verdade que outros do futebol também entram nas historietas (há um Quaquà, um Kaká em história de patos), mas o big, il grande, é ele, Mou. Revolucionário, como na vida real, Mou inventa novos sistemas: "Já não 11 contra 11 em 90 minutos, mas 90 contra 90 em 11 minutos." Todos os grande homens têm o seu violino d'Ingres, mas surpreende-me que o de Mourinho não seja a ópera. Ele, que tanto treinou para prima donna.
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